quinta-feira, março 23, 2006

Só esta noite perdi a virgindade

Ou talvez Rose, a alemã de origem cigana, dizia ela. Mas aí era a neve, o gorro dela, a boca, talvez a boca, o seu pudor de pronunciar certas palavras em francês, o Spree, a desolação das ruas, as ruínas junto à Porta de Brandeburgo, o muro, a terra-de-ninguém, a grande e irremediável tristeza da cidade dividida. Ela era casada, tinha filhos, ao principio não queria.
- Não sou uma mulher perversa, disse.
Mas depois quando aconteceu, uma noite inteira a fazer amor, nunca tu próprio tantas vezes, quase sem interrupção, ela disse:
- Só esta noite perdi a virgindade

Extraído de "Rafael", romance de Manuel Alegre.

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