domingo, abril 26, 2009

Fizemos muito

(...) é muito comum uma espécie de discurso nostálgico sobre "cumprir Abril".
Para esse discurso não dou nada porque "Abril" já está bem "cumprido": temos liberdade política, democracia, descolonizámos e, mesmo no "D" mais difícil, o do "desenvolvimento", Portugal está muito diferente do país herdado de Salazar e Caetano.
Não é a altíssima mortalidade infantil, o analfabetismo, a pobreza e a miséria, que faziam centenas de milhares emigrarem com todos os riscos, um país onde em muito do seu território não havia luz, nem água canalizada, nem saneamento básico, que caracterizam o Portugal de hoje, trinta e cinco anos depois.
Continuamos com muitos problemas nesse "D", e estamos a agravar esses problemas, mas, nestes trinta e cinco anos, fizemos muito. O país estava muito estragado em 24 de Abril, e só idealisticamente se podia esperar um milagre de "Abril", mas, mesmo se Portugal continua muito estragado, é um "estragado" com aspectos diferentes. Alguns são os mesmos, mas outros são diferentes.

Extraído da crónica de Pacheco Pereira
in Publico.pt

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